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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CONSCIÊNCIA NEGRA OU OUTRO RACISMO?

(Foto: www.sopabrasiguaia.blogspot.com)

Moro em Salvador, Bahia, e sei que vou, agora, mexer numa vaca sagrada. Ou num acarajé sagrado, melhor dizendo. Vamos à ferida! Aqui é muito celebrada e enaltecida a questão da consciência negra: um tipo de racismo ao contrário mascarado de boas intenções, praticado pelos que se dizem “negros” e “politizados”, e admirado pelos que acham esta uma postura "in", que mistura uma visão política simplista com uma prática cultural e artística igualmente rasa e acrítica, tudo regado a muito carnaval, turismo sexual e rancor com um passado lamentável, o da escravidão - o mesmo passado que é enaltecido quando se fala de samba, capoeira, culinária e da sensualidade da mulher baiana e brasileira. Quer dizer, se eu bem entendi, o que segregou atrasou-nos em tudo, mas o segregado, que se misturou na calada da noite em senzalas, temperou gostosamente esse Brasil. Se entendi bem foi isso mesmo o que ocorreu, certo? Parece, todavia, que há uma lógica subliminar pela qual o que sofreu racismo tem um tipo de direito adquirido para ser racista. Algo parecido com o que as mulheres fizeram a si próprias, igualando-se em alguns tristes pontos ao que o homem tem de pior, em nome de uma pretensa "igualdade de direitos". Ou seria um pacto hipócrita de baixa auto-estima, que nos leva a endossar que há mocinhos negros e bandidos brancos numa sociedade majoritariamente permeada por criminosos de todas as cores, especialidades e classes sociais? Então, encarnamos papéis: plasmamos no imaginário coletivo o “negro” puro e injustiçado e o “branco” perverso e usurpador. Desconhecemos que a atividade escravocrata no Brasil era também alimentada por práticas fratricidas entre tribos africanas, que capturavam seus iguais para o tráfico, participando, assim, do sistema escravista de então. Deveríamos ter, isto sim, uma consciência humana, não “negra” ou “branca” ou “amarela” ou “vermelha” (e nesse ponto penso que os gays são mais humanos, pois têm todas as cores em seu democrático arco-íris). Na verdade, essa motivação não difere em nada - apenas em colorido - do combustível que tem feito israelenses trucidarem um povo irmão em Gaza. O fato é que - querendo ou não, aceitando ou não, sabendo ou não - somos todos irmãos. Há muito a ciência descobriu que não há raças, mas apenas uma raça: a humana. Fora isso o que há são etnias. Embora ainda hoje muitos jornalistas, cientistas e políticos renomados e desavisados continuem, erroneamente, mundo afora, a usar o termo raça em lugar de etnia. Como diz Gilberto Gil: “A raça humana é uma semana do trabalho de Deus”. Se você já respondeu a um censo do IBGE, sabe que na questão “cor da pele” a resposta a ser dada é livre, aberta, não induzida, pois esta é uma questão de consciência e foro íntimo. Ótimo! Então temos “negros” que se dizem “brancos” e “brancos” que se dizem “negros”. E os quase "brancos" e os quase "negros", como diz Caetano. A útil discussão das cotas universitárias passa também por esse ponto sutil. As pessoas andam, aqui, nas ruas de Salvador com camisetas estampadas “100% Negro”. As pessoas aqui acham que isso é algo que tem a ver com atitude, orgulho “negro”, dignidade, cabeça erguida. Oxe! como diria o baiano (ou uai! como diria o mineiro, ou ué! como diria o caipira), isto não é segregação?! Creio que se alguém andasse, aqui, com uma camiseta estampado “100% Branco”, ou “100% Palestino”, ou “100% Gay” seria, no mínimo, agredido (espero o dia em que andemos com camisetas estampando “100% Irmãos”, ou “100% Humanos”). Lembro-me de uma pesquisa, no rastro do Projeto Genoma, detalhando o DNA de personalidades "negras" e "brancas", como a ginasta Daiane dos Santos, esta com DNA majoritariamente europeu. Neste caso, muito "negro" desinformado por aí deveria corrigir sua camiseta para algo como "28% Negro" ou "72% Branco" (!?). Aliás, trabalhei por uns dois ou três anos com as principais ONG’s do dito Movimento Negro de Salvador, num Fórum de Parceiros da Secretaria Municipal de Educação, e estive em várias reuniões com coordenadores de todas estas grandes ONG’s soteropolitanas, eu também na qualidade de coordenador da ONG que representava. Em tal contexto, pude ver de perto que muitas dessas ONG’s - nem todas, quero crer - na verdade movimentam muito mais alguns bolsos do que qualquer outra coisa, e posso atestar com conhecimento de causa que, em geral, tais movimentadores têm uma postura cínica e mercantilista: muitos projetos praticamente não saem do papel como prometem; a quantidade de crianças e jovens atendidos fica aquém do projetado, sendo que estes números, depois, são devidamente maquiados; e a fiscalização governamental é praticamente inexistente com esse meu e seu dinheiro tornado público via impostos e retornado privatizado para a conta de alguns. Estou como que aliviado. Há muito tempo queria escrever sobre isso, desde que, chegando aqui, em 2004, pude sentir veladamente na pele o que um “negro” deve sentir em nosso Sul, uma vez que sou “branco” e já sofri muito preconceito, aqui e ali, em Salvador, esta terra maravilhosa. Alguns me chamarão de racista com este pretensioso artigo. Racista não posso ser, uma vez que moro há cinco anos em Salvador (população 80% "negra"!) por vontade própria. Assim, eu seria um suposto racista masoquista. O trabalho que aqui realizo bem o poderia realizar em São Paulo, minha cidade natal, Curitiba ou qualquer outra capital brasileira. Além do que, numa cidade majoritariamente "negra" eu, que sou um homem de muitos amigos, aqui e acolá, tenho "negros" e "negras" na maioria desses amigos e amigas. Mesmo namorei e casei com algumas mulheres bastante “negras”, outras nem tanto. E isso não começou aqui, mas em São Paulo. Lá eu já era apaixonado pelas mulheres “negras”. Pelas “brancas” também. E já tinha vários bons amigos "negros" e "brancos". A questão é outra. A questão é lutar contra o racismo embutido em hipocrisia e superioridade, e em ponte de ascensão para alguns oportunistas sobre a cabeça de muitos, muito mais nefasto que o racismo escancarado, este sim inimigo declarado com que se pode e deve lutar em campo aberto.

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Depois de prefixo, quando a segunda palavra começar com s ou r, as consoantes devem ser duplicadas. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra. No entanto, o hífen será mantido quando os prefixos terminarem com r, como hiper-, inter- e super-. Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

QUEM SOU EU

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Salvador, BA, Brazil
Sou paulista, tenho 44 anos, e a seis anos moro em Salvador, Bahia, aonde vim fazer meu mestrado em arte-educação na Universidade Federal da Bahia. Sou professor de Metodologia de Pesquisa Científica na Faculdade São Tomaz de Aquino, nos cursos de Direito, Pedagogia e Comunicação. Presto serviços em Metodologia de Pesquisa Científica - minha especialidade - e Redação pela TEXTO&CONTEXTO: cursos, consultoria e normatização para textos científicos. Tenho atuado a mais de 15 anos junto a alunos de graduação e pós-graduação de universidades como UFBA, Uneb, USP, Unicamp, Unesp, UFPE, UFSC, FGV e universidades de Portugal e África, dentre outras. Em 2008, iniciei disciplinas no doutorado em Educação na UFBA como aluno especial.

ESTRADA

  • Nasci em São Paulo, capital, e fui criado no bairro da Moóca, tipicamente de classe média italiana, nascido como bairro proletário.
  • Nos anos de 1987 e 1988 fui membro individual da Anistia Internacional e em 1989 fui membro de grupo, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.
  • Em 1989, iniciei bacharelado no Instituto de Artes da Unicamp.
  • Em 1993, trabalhei como voluntário responsável pela biblioteca no Centro Boldrini, hospital referência no tratamento do câncer infantil, em Campinas.
  • Em 1996, com mais seis amigos, fundei o Centro de Cultura e Convívio Cooperativa Brasil, em Campinas.
  • Em 2000, escalei o vulcão Villarica, no Chile, o mais ativo da América do Sul, com quase 4 mil metros.
  • Em 2001, conclui especialização em Metodologia de Pesquisa Científica pela Unicamp.
  • Em 2003, graduei-me na ABADÁ-Capoeira.
  • Em 2007, conclui mestrado na área de arte-educação pela UFBA.
  • Desde 2007, sou membro da Igreja Batista da Graça.
  • Atualmente, sou Membro Internacional e de Rede de Ação Urgente da Anistia Internacional, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.

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