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terça-feira, 21 de abril de 2009

"VEJA": TOTALMENTE DISPENSÁVEL

(Foto: Erick_1968)

Leio uma matéria de Veja (edição 2109), assinada por Ronaldo Soares, sobre a, no mínimo, polêmica construção de muros ao redor de favelas no Rio de Janeiro pelo Governo estadual. O jornalista lá pelas tantas diz que “Pode ser o sinal de que, finalmente, o poder público resolveu deixar a demagogia de lado e combater com seriedade o processo de favelização”. O grifo é meu… Vou fazer uma pausa... Vou ali pegar um café... [Foco em outro Ronaldo, o fenômeno: participou da jogada que gerou o primeiro gol da semifinal contra o São Paulo e marcou o segundo duma belíssima arrancada, digna de quem de forma alguma está fora de forma!]. Voltemos ao tal Ronaldo do texto… Café amargo… duro de engolir. Vejamos: ele crê que um muro tem o poder de conter o processo de favelização (dentro deste raciocínio brilhante, por que então não murar o Brasil para combater a entrada de armas e drogas?). Ufano, defende que o muro é um “marco histórico”. Realmente, muro é marco, demarcação, e uma demarcação serve para separar, distinguir. Histórico também o é, pois a história está impregnada dessas iniciativas lamentáveis: Berlim, Palestina, Coréia, Auschvitz, etc.; e, deve-se aprender com a história, todos partitivos. Muro é para segregar. Quando não há consenso, quando não há Justiça, quando não há diálogo, união ou partilha, muros são erguidos. Muros na alma antes de muros concretos. No caso do Rio, o muro serve unicamente para desviar o olhar sobre uma realidade incômoda para quem está confortavelmente dentro da sociedade, como concorda o espanhol El País. É a concretização do apartheid que, de fato, vivemos. Contudo, sem dificuldades, a favela vai “pular” o tal muro de três metros. Favela é como água, não pode ser contida com muro. Não se pode reprimir nem suas mazelas, nem sua vibrante cultura, nem sua vida pulsante, que não se encontra em nenhum condomínio de luxo. Favelas são formadas por pessoas safas (em todas as acepções do termo), que estão acostumadas à guerra diária e a driblar obstáculos de toda natureza num cotidiano penoso, que o moço do artigo definitivamente não conhece, nem na teoria como demonstra, nem na prática como se subentende (talvez tenha sido, como se diz, um menino amarelo criado em apartamento pela avó). Ronaldo Soares pensa que as pessoas são faveladas por opção e não, pelo contrário, por falta de opção. Provavelmente, nunca visitou uma favela para saber que, sob muitos aspectos, só um masoquista optaria por morar em uma, tendo disponíveis outras escolhas. Quer dizer, o sujeito constrói um barraco porque não tem dinheiro para o aluguel, e constrói na favela porque não tem opção de lugar e porque há pares: óbvio ululante. Ninguém tem como projeto de vida morar pendurado em barranco. Murar uma favela, evidente, não é combater o problema com seriedade como quer com simplismo o rapaz de Veja. Combatê-lo com seriedade seria gerar empregos e moradias populares; proporcionar crédito; criar salas de aula, áreas de esporte e lazer, espaços culturais e postos de saúde; acabar com o tráfico de armas e drogas; melhorar o nível da polícia em todos os aspectos; acabar com o desvio de verba pública por políticos e empresários corruptos; acabar com a sonegação fiscal; etc. etc. Veja - que já foi, há muito, uma revista semanal combativa de alto nível - realmente atingiu o fundo do poço com um time à altura, e com matérias superficiais, tendenciosas e reacionárias. A falta de profundidade e amplitude analítica do mentor do “texto” de Veja é espantosa, para não dizer hilária. O próprio rapaz lida com argumentos contraditórios em seu testículo; ou melhor, inocentemente, não consegue ter um olhar crítico sobre o objeto de sua pauta. Reporta ele: “Os que são contrários à idéia lembram que as favelas, principalmente as da Zona Sul, crescem pouco para os lados. A maior expansão dá-se verticalmente - há edifícios de mais de 10 pavimentos em algumas delas. As que foram selecionadas para o projeto realmente aumentaram muito pouco sua área. Avançaram apenas 1,18% entre 1999 e 2008, segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), ligado à prefeitura do Rio”. Tiro no pé: a munição que Soares toma dos opositores à idéia do muro - que defende - não serve como contraponto, apenas ilumina a fragilidade de sua própria tese, demonstrando por um órgão ligado à própria prefeitura que a expansão é irrisória (pouco mais de 1% em uma década!?), donde se conclui que o intuito do muro não é conter avanços, mas separar (bom, já que crescem verticalmente, mais eficaz, creio, não seria murar, mas, sim, tampar!). Ingenuamente, numa linha torta de raciocínio, o jornalista não percebe debaixo de seu nariz que o argumento contrário à murada denuncia a inconsistência do objetivo oficialmente proclamado: a contenção dos barracos. Outra afirmação estapafúrdia é que os barracos seriam prejuízo para a imagem do Rio. Ronaldo entende que para não estragar sua bucólica paisagem carioca deva-se jogar a sujeira debaixo do tapete. Ou, melhor, para trás do muro. Prejuízo real à imagem é o que os barracos simbolizam: desigualdade feroz e injustiça social gritante. O rapaz do artigo promove, então, uma inversão de valores em sua análise: negativo para o Rio não é a imagem dos barracos, mas seu conteúdo, o que lhe é imanente, fruto de um sistema social nefasto; ou, negativo é o estado de coisas que marginaliza pessoas, cidadãos, trabalhadores, tornando-os, por um lado, reféns do crime nas favelas, e, por outro, órfãos de um Estado demagógico, corrupto e inapto (Estado forjado por cidadãos desejados na hora do voto, cidadãos que alçam essa corja de vagabundos ao poder, o mesmo poder que depois os descarta sumariamente). Sem contar que o dito escritor toma causa por efeito: favela é efeito, não causa. As causas do problema (que deveriam efetivamente ser contidas) são a desigualdade social, o sistema injusto, o capitalismo voraz, a ganância das elites, a corrupção e a manutenção do status quo. Políticas sérias, sabe-se, deveriam atacar causas estruturais, ao mesmo tempo em que, paralelamente, minimizariam temporariamente os efeitos com programas sociais igualmente sérios. Na lógica do Ronaldo, por exemplo, Bolsa Família seria um programa para erradicar a miséria, e não o paliativo emergencial que pretende ou diz ser. Além da falta de consistência em suas proposições, o autor de Veja comete um erro grosseiro e outra deselegância. Tecnicamente, falha ao afirmar que há 1000 favelas no Rio de Janeiro: são, na verdade, em torno de 700, e o problema é mais grave em São Paulo, que tem 2100, o triplo! No campo da reverência a quem se deve, Ronaldo (que não é nenhum fenômeno) erra feio ao chamar de “palpiteiro de plantão” ninguém menos que o escritor português José Saramago, notoriamente um progressista consistente, que apontou corretamente o “viés ideológico” do projeto, adequadamente comparando-o em seu blog com os muros de Berlim e da Palestina. Saramago (Prêmio Nobel de Literatura e o mais importante escritor vivo de língua portuguesa no mundo!) deveria ser mais respeitado e mesmo mais lido por esse Soares, que viria a aprender muito (provavelmente nunca o suficiente para atingir o nível de um Nobel, mas, com certeza, algo para lapidar pouco mais sua insipiente escrita). A propósito, no bojo do que seria esta seriíssima proposta para a contenção de problemas crônicos, e uma vez que iniciativas acertadas devem ser aplicadas em outros setores da sociedade, por que então não murar Daniel Dantas; Eliana Tranchesi; José Sarney; Gilmar Mendes; Michel Temer; Roseana Sarney; os ministros do TSE, que roubaram o mandato de Jackson Lago para Roseana; todos os deputados que fazem a farra dos vôos com dinheiro público; etc. etc. etc.? Dessa forma, a corrupção, a canalhice, a falta de caráter, a roubalheira, a exploração, o enriquecimento ilícito e tantas outras podridões nacionais estariam devidamente sepultadas junto com as indesejáveis favelas… Mas, não vamos ser perdulários, que os tempos não nos permitem: uma área de 3m3 para cada um deles é mais que suficiente, até para exercitarem-se, com uma abertura para respiro, outra para alimentação, outra para defecação e uma tampa transparente para incidência dos raios solares…

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Depois de prefixo, quando a segunda palavra começar com s ou r, as consoantes devem ser duplicadas. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra. No entanto, o hífen será mantido quando os prefixos terminarem com r, como hiper-, inter- e super-. Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

QUEM SOU EU

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Salvador, BA, Brazil
Sou paulista, tenho 44 anos, e a seis anos moro em Salvador, Bahia, aonde vim fazer meu mestrado em arte-educação na Universidade Federal da Bahia. Sou professor de Metodologia de Pesquisa Científica na Faculdade São Tomaz de Aquino, nos cursos de Direito, Pedagogia e Comunicação. Presto serviços em Metodologia de Pesquisa Científica - minha especialidade - e Redação pela TEXTO&CONTEXTO: cursos, consultoria e normatização para textos científicos. Tenho atuado a mais de 15 anos junto a alunos de graduação e pós-graduação de universidades como UFBA, Uneb, USP, Unicamp, Unesp, UFPE, UFSC, FGV e universidades de Portugal e África, dentre outras. Em 2008, iniciei disciplinas no doutorado em Educação na UFBA como aluno especial.

ESTRADA

  • Nasci em São Paulo, capital, e fui criado no bairro da Moóca, tipicamente de classe média italiana, nascido como bairro proletário.
  • Nos anos de 1987 e 1988 fui membro individual da Anistia Internacional e em 1989 fui membro de grupo, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.
  • Em 1989, iniciei bacharelado no Instituto de Artes da Unicamp.
  • Em 1993, trabalhei como voluntário responsável pela biblioteca no Centro Boldrini, hospital referência no tratamento do câncer infantil, em Campinas.
  • Em 1996, com mais seis amigos, fundei o Centro de Cultura e Convívio Cooperativa Brasil, em Campinas.
  • Em 2000, escalei o vulcão Villarica, no Chile, o mais ativo da América do Sul, com quase 4 mil metros.
  • Em 2001, conclui especialização em Metodologia de Pesquisa Científica pela Unicamp.
  • Em 2003, graduei-me na ABADÁ-Capoeira.
  • Em 2007, conclui mestrado na área de arte-educação pela UFBA.
  • Desde 2007, sou membro da Igreja Batista da Graça.
  • Atualmente, sou Membro Internacional e de Rede de Ação Urgente da Anistia Internacional, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.

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