(Foto: sergiolira)
Mais do que por sua velocidade espetacular, seus dribles geniais e seus inúmeros gols, mais do que por seu futebol maravilhoso, suas superações, suas conquistas, sua humildade e simpatia, Ronaldo é por todos admirado, acima de tudo, porque demonstra humanidade. Não é perfeito. Tem defeitos. Claro, fora de campo também erra: “faz uma noitada” irresponsável, se envolve com um travesti, casa inúmeras vezes (algumas de forma relâmpago), perde a forma, recupera a forma. Mas, acima de tudo, demonstra o que falta a muitos de nós: é gente de carne e osso com uma humanidade latente. Ronaldo não é hipócrita. Faz declarações ponderadas, se expõe. Detém prêmios, títulos e recordes históricos: maior artilheiro da história das copas do mundo! Nem Pelé, nem Maradona: Ronaldo; segundo maior artilheiro da seleção brasileira, perdendo apenas para Pelé; e o mais jovem a receber o prêmio de melhor jogador do mundo pela FIFA com apenas 20 anos. Quais jogadores mais têm a capacidade de, com mais um eterno retorno e um gol, emocionar rivais, torcidas do Brasil e do mundo todo e emplacar manchetes pelo globo? Isto não se deve apenas ao futebol genial de Ronaldo, pois futebol genial não falta ao Brasil e ao mundo. Ronaldo não tem vergonha de errar, pelo simples fato de que todos erramos e ele, humana e humildemente, sabe disso. Quantos desacertos baixos camuflados o tempo todo por quase todos. Quanta canalhice cotidiana, quanta pisada na bola, especialmente pelos que têm mando de campo neste País e no mundo: Mas, Ronaldo não dissimula e essa é uma qualidade única. Isso é coragem e simplicidade, tão desprestigiadas hoje em dia. Por isso, qual um Guga, quem realmente popularizou o tênis no Brasil, dado o seu carisma, Ronaldo é querido por todos: colegas, treinadores, torcedores, adversários, ex-jogadores, jornalistas, crianças, até por quem não gosta e não entende de futebol. Um repórter do CQC pergunta a um palmeirense: “Ronaldo vai marcar?”. “Vai” - a resposta - “só que o Palmeiras vai ganhar!”. Onde e quando já se viu isso entre arquirrivais?! Gaúcho, Kaká e Robinho são estrelas. Estão pregados no firmamento com seus brincos de brilhantes. Ronaldo é craque fincado na terra, por isso a identidade. Kaká é príncipe e Adriano, imperador, por isso não há identificação. Estão longe do alcance do coração do povo. Ronaldo corre nas veias, é boleiro. Kaká não comete erros, é perfeito: melhor do mundo, apolíneo, ético, casado com uma princesa, milionário, não causa polêmicas, crente, bom filho, bom moço. Há quem questione sua humanidade. Será uma superpessoa ou talvez um andróide? Como diz Zélia Duncan: “Quem se diz muito perfeito, na certa, achou um jeito insosso pra não ser de carne e osso”. Mesmo Marcelo D2 homenageia Ronaldo com uma composição - “Sou Ronaldo” - e traduz: “O meu desejo é ser criança e não perder a esperança de ver o jogo mudar”. Lula - amante do futebol, peladeiro, corintiano declarado e roxo - poderia, muito mais que Ronaldo, ter feito o jogo mudar. Afinal, Lula é o dono da bola. Lula talvez fosse amado tanto quanto Ronaldo se não escondesse seus erros, que são bastantes; talvez tantos quantos seus acertos, estes estrategicamente e muito propagados. Mas, Lula é aprovado, não é amado. Ronaldo não. Ronaldo é provado e é amado… Ronaldo se joga no alambrado à torcida. Ele está em casa. Uma casa muito engraçada, de chão verde, não tem teto, não tem parede. Em seus olhos, um brilho de prazer pelo mar de gente, mar de ondas e sons. Espectador privilegiado, tal um popstar no palco, muito mais extasiado que sua própria platéia sem que o saibamos. Ronaldo, gente boa!