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sábado, 28 de fevereiro de 2009

EXCRESCÊNCIAS.

(Foto:www.tecgrama.com.br)

Numa sociedade caracterizada pela injustiça social (especialmente num dos países onde a distância que separa ricos e pobres é notoriamente das maiores do mundo), um dos mecanismos genuínos de luta por transformações a que pessoas e grupos têm acesso é exatamente o movimento social, como é o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os movimentos sociais, em geral, se caracterizam por atuarem de forma explícita no ambiente político, através de passeatas, atos públicos, promoção de ações judiciais, encampamento de órgãos, ocupações de bens públicos e de propriedades, dentre outros. No caso do MST, como em qualquer outro movimento, obviamente, é possível haver excessos e manipulações pontuais, mas casos específicos devem ser julgados isoladamente, não se pode generalizar a todo um movimento social, que tem uma reivindicação histórica e legítima: a reforma agrária. Sabe-se que o purismo não é característica humana nem de grupos, e isto o PT já demonstrou fartamente aos iludidos de plantão. Mas, também, não se pode cruzar os braços diante de tamanha injustiça social: é preciso organizar-se em luta. E luta não é namoro, não se faz de beijos, abraços e flores; luta é embate, conflito, que não tem que se dar necessariamente no campo da violência. Não é justamente em resposta aos “excessos” seculares de determinadas políticas e práticas econômicas que movimentos sociais como o MST lutam e lutaram? Não foi assim com a luta antiescravista no Brasil, durante décadas, mexendo com o interesse econômico de poderosos, envolvendo atores diversos, internos e externos, e graves atritos sociais? Não é contra a enormidade de privilégios que um grupo se organiza para achar meios de minimizar disparidades? Como deveria agir toda uma classe de oprimidos frente à classe que oprime? Uma classe opressora sensibiliza-se com o diálogo, ou com a idéia de compartilhamento? A lógica da elite, tradicionalmente, é a lógica do status quo, ou seja, atuar em nome da manutenção irrestrita de suas benesses, unicamente no interesse de sua classe (de sua manutenção, reprodução e perpetuação) não se levando em conta qualquer análise do ponto de vista social ou humanitário: é preciso não ceder terreno e isso, no caso do MST, tem sentido figurado e literal. Assim, a elite movimenta-se em todos os fronts possíveis nesta guerra: pela política, imprensa, opinião pública, judiciário, polícia, força bruta etc. Há estratégias de enfraquecimento do MST: de um lado, sua criminalização pelas elites rural e empresarial, e pelas direitas judiciária e política, e, de outro, seu desabono perante a opinião pública pela imprensa em geral. Recentemente, de acordo com a Agência Estado, “o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Alencar Burti, enviou uma carta ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, na qual chama de excrescência o financiamento do MST com dinheiro público. ‘Sou contra o repasse de verba pública para financiar movimentos sociais que atuam em constante desrespeito ao Estado de Direito, agindo à margem da lei’". Resta a pergunta: Estado de Direito para quem cara pálida?! O senhor Burti, ao que parece, espera que os integrantes do MST mantenham-se passivamente fora da sociedade, porém dentro da lei. O ministro Mendes, homem em tudo coerente com seus juízos relativos, concordou com o senhor Burti, declarando que “considera ilegal o repasse de recursos públicos para movimentos sociais que ocupam terras. Na mesma ocasião, o ministro também cobrou atuação mais enérgica do Ministério Público (MP) contra as invasões de terras”. O Ministro Gilmar é rápido em cobrar ação enérgica do MP conta o MST, porém lento, com todo poder que detém, em ser enérgico com o senhor Daniel Dantas, por exemplo. [Me permitam uma breve digressão, por favor: tudo se resume a dois pesos e duas medidas sempre. Tive uma cliente, promotora de Justiça, que me apontou que, em juízo, um réu da estirpe de um Daniel Dantas é tratado por doutor pelo juiz, posto que frequentam os mesmos clubes, seus filhos frequentam os mesmos colégios, as mesmas academias, as esposas vão aos mesmos salões...]. Ministro Gilmar, me esclareça, por favor! Como se promove uma reforma agrária sem investimentos financeiros (para desapropriações de terras improdutivas, geração de infraestrutura nos assentamentos etc.)? E como esses recursos não seriam públicos? Burti elogiou o digníssimo magistrado: "A atitude de Vossa Excelência serviu para trazer à tona a repulsa e a firme posição dos presidentes do Senado e Câmara, no sentido de também coibir essa excrescência que é o financiamento de movimentos sociais, que outra coisa não fazem senão gerar baderna, caos e insegurança, ferindo os mais elementares princípios de uma democracia". Novamente, eu pergunto: democracia para quem, selvagem capitalista Burti? Dentre os princípios elementares de uma democracia não estariam, também, igualdade de direitos e oportunidades? Acesso a terra para o trabalho e não para a improdutividade? Acesso à Educação e Saúde de qualidade? Que condição de igualdade têm membros do MST com este senhor Burti ou com o supremo do Supremo? Vamos, talvez, comparar o local onde estes opostos residem, ou a qualidade de vida que desfrutam, ou o local onde seus filhos são educados, ou a que sistema de saúde se dirigem quando necessitados, que meios de transporte usam, dentre outros? É uma questão de ponto de vista, de perspectiva: para o doutor Burti, democracia é manter tudo como está, e, para um sem terra, democracia é a possibilidade de mudar o que aí está. É claro que o senhor Burti e outros senhores burti pelo Brasil afora não querem ter suas vidas de conto de fadas badernadas, nem reféns de caos ou insegurança. Querem o de sempre: que as coisas continuem como são e estão, pois para os burtis do Brasil isto está muito bom. Para os seus filhinhos adolescentes que gastam em uma “balada” o que um membro do MST não gasta num semestre em comida, também está muito bom. As senhoras burti também não querem gastar pouco menos do que gastam numa tarde de compras no shopping, em prol das senhoras do MST poderem ter uma vida tanto mais digna. Muitos amigos, vizinhos e parentes dos burtis também não reverteriam parte de enormes somas gastas com cocaína, champanhe francês e uísque escocês para vestir melhor os filhos dos sem terra... A democracia no Brasil é muito peculiar, é uma democracia para poucos: em 1998, o IBGE mapeou que o 1% mais rico no Brasil ganhava mais que os 50% mais pobres... Fato é que os incontáveis burtis neste País sentem-se incomodados com movimentos sociais e gostariam mesmo que tais excrescências nem existissem para não atrapalhar suas vidinhas confortáveis ao extremo em seus condomínios de luxo, haras e fazendas, com suas festas e convivas, seus iates, jatinhos e praias particulares. Realmente, o que os burtis Brasil adentro gostariam de externar - mas é bastante politicamente incorreto, então apela-se para a máscara social e o discurso vazio - é que é repugnante esta gentalha toda querendo direitos e uma boa parte das terras privadas. No fundo, e no raso também, todos os burtis nacionais quereriam que estes seres imundos - estas excrescências - simplesmente desaparecessem, saíssem do caminho, fossem mortos, abduzidos ou presos perpetuamente... Felizmente, ainda segundo a Agência Estado, o ministro-chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, defendeu o MST das acusações de praticar atividades criminosas. Vannuchi disse ver com preocupação o que ele chamou de "convencimento equivocado" de um juiz sobre movimentos sociais, como o MST: "Em tese, ele será chamado a votar, a proferir sentença nesse tema. O que eu sugiro é que todos nós, autoridades públicas, nesses pronunciamentos, cuidemos de separar pontos de vista e falar em nome do poder". O ministro-chefe da Secretaria pediu calma na apuração dos crimes atribuídos a militantes do MST e que os acusados respondam individualmente perante a lei por seus erros ou eventuais crimes, sem “satanizar” os movimentos sociais. Numa alusão à repressão do regime militar no Brasil, Vannuchi disse que os militantes do MST estão se tornando os "comunistas" da atualidade. Chegou a comparar as críticas ao movimento à perseguição de Hitler aos judeus. "O MST pode ter erros, equívocos, mas não posso deixar de reconhecê-lo como movimento social. Não equacionamos isso na base da repressão, do processo judicial, prisão e lei. Movimento social tem que ser equacionado sempre com diálogo", defendeu o ministro lucidamente... A propósito, quer parecer um ato falho deste senhor Burti usar o termo excrescência e não qualquer outro afim. Excrescências lembram excrementos, além de serem saliências de um terreno; o que está sobrando, em demasia; e tumor sobre superfície de órgãos, como um asqueroso exército de sem terras em marcha, formando podres protuberâncias sob verdejantes pastos e campos de golfe...

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Depois de prefixo, quando a segunda palavra começar com s ou r, as consoantes devem ser duplicadas. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra. No entanto, o hífen será mantido quando os prefixos terminarem com r, como hiper-, inter- e super-. Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

QUEM SOU EU

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Salvador, BA, Brazil
Sou paulista, tenho 44 anos, e a seis anos moro em Salvador, Bahia, aonde vim fazer meu mestrado em arte-educação na Universidade Federal da Bahia. Sou professor de Metodologia de Pesquisa Científica na Faculdade São Tomaz de Aquino, nos cursos de Direito, Pedagogia e Comunicação. Presto serviços em Metodologia de Pesquisa Científica - minha especialidade - e Redação pela TEXTO&CONTEXTO: cursos, consultoria e normatização para textos científicos. Tenho atuado a mais de 15 anos junto a alunos de graduação e pós-graduação de universidades como UFBA, Uneb, USP, Unicamp, Unesp, UFPE, UFSC, FGV e universidades de Portugal e África, dentre outras. Em 2008, iniciei disciplinas no doutorado em Educação na UFBA como aluno especial.

ESTRADA

  • Nasci em São Paulo, capital, e fui criado no bairro da Moóca, tipicamente de classe média italiana, nascido como bairro proletário.
  • Nos anos de 1987 e 1988 fui membro individual da Anistia Internacional e em 1989 fui membro de grupo, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.
  • Em 1989, iniciei bacharelado no Instituto de Artes da Unicamp.
  • Em 1993, trabalhei como voluntário responsável pela biblioteca no Centro Boldrini, hospital referência no tratamento do câncer infantil, em Campinas.
  • Em 1996, com mais seis amigos, fundei o Centro de Cultura e Convívio Cooperativa Brasil, em Campinas.
  • Em 2000, escalei o vulcão Villarica, no Chile, o mais ativo da América do Sul, com quase 4 mil metros.
  • Em 2001, conclui especialização em Metodologia de Pesquisa Científica pela Unicamp.
  • Em 2003, graduei-me na ABADÁ-Capoeira.
  • Em 2007, conclui mestrado na área de arte-educação pela UFBA.
  • Desde 2007, sou membro da Igreja Batista da Graça.
  • Atualmente, sou Membro Internacional e de Rede de Ação Urgente da Anistia Internacional, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.

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