(Foto: Michele Coleman)
Dona Lorenza Palma da Cunha, catadora de material reciclável, 55 anos, moradora de Penápolis, interior de São Paulo, devolveu aos donos de um supermercado R$ 40 mil em dinheiro e cheques que ela encontrou no lixo do estabelecimento. "Recolhi várias sacolas e algumas garrafas de plástico e coloquei aqui na carretinha (um reboque puxado por uma bicicleta). Quando cheguei em casa rasguei uma das sacolas e vi o dinheiro dentro dela". Dona Lorenza diz que se espantou ao ver tanto dinheiro. "Nem acreditei que eram de verdade, para mim aquilo era dinheiro de mentira, de coleção. Perguntei para meu amigo e ele me disse que era de verdade. Quando mexi de novo, achei uns cheques e lembrei que as sacolas eram do supermercado". Não pensou duas vezes: voltou ao supermercado... e devolveu. Como “recompensa”, a catadora de materiais recebeu R$ 200,00 (isto mesmo!) do dono do estabelecimento. Os R$ 200,00 da “recompensa” foram usados por Dona Lorenza para pagar a prestação de uma conta e com o troco ela comprou dois refrigerantes, dois pacotes de farofa e alguns espetinhos de carne bovina e de frango. Segundo ela, a compra foi para festejar o aniversário de um dos quatro netos, que completou 18 anos. "Acho que o dia hoje era mesmo para eu dar um jeitinho de fazer uma festinha para meu neto"... Eu, ironias a parte, sugiro que esta digna brasileira - honrada, trabalhadora, uma senhora tão pobre que tem dificuldade em identificar dinheiro (tem pouquíssimo contato com as cédulas) - seja levada a proferir uma palestra... uma não, sugiro que ela seja subsidiada para passar o ano viajando com todas as despesas dignamente pagas – transporte, hotel e alimentação - e um justo pró-labore, com o fim de ministrar palestras sobre ética, honestidade e assuntos correlatos (nos quais pelo visto ela é doutora!) para políticos do legislativo e do executivo das esferas municipal, estadual e federal do País todo; bem como dos membros do judiciário em todas as instâncias; das policias civil, militar e federal; e para dirigentes de instituições financeiras públicas e privadas... Melhor viabilizar este projeto em pelo menos quatro ou cinco anos... Uma mulher dessas com certeza tem uma vida muito dura, desde uma jornada diária braçal de longas horas sob sol e chuva, quanto morar num local e numa residência precários, problemas com vestuário, saúde, segurança, educação de filhos e netos, alimentação, gás, luz, água limpa, esgoto, lazer etc. etc. Uma mulher dessas - que provavelmente vive num quadro muito pior do que eu pude pintar - não teve sua integridade corrompida, não teve sua alma contaminada, não fala línguas, nem frequentou universidade ou clubes, não possui títulos, mas possui algo dentro de si que é realmente muito difícil de quantificar ou qualificar ou mesmo descrever. Algo que sarneys, quércias, malufs, rorizes, cunhas limas, collors, dantas, acm's e outras mediocridades do gênero sequer têm idéia de que exista: com certeza não viram isto em suas casas e famílias, não conviveram com isto em suas vizinhanças ou ao longo de suas vidas, não possuem esta referência que tantos brasileiros altamente dignos possuem, a de que ser humano é para ser respeitado em qualquer instância e não para ser malandramente ludibriado e usado... Em tempo: bom incluir este dono de supermercado nesta “assistência de próceres” sugerida acima, pois um homem que tem devolvido seu dinheiro e dispõe de uma “gratificação” de meio por cento e não de dez, ou mesmo trinta por cento, tem, realmente, ainda muito o que aprender sobre a vida...
(Fonte: Reuters)