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quinta-feira, 9 de julho de 2009

DE CÃES, HOMENS E VERMES


Tenho “saudades” de Maluf. O político corrupto ficou famoso pela expressão a ele atribuída: “rouba, mas faz”. Realmente, Maluf roubava e fazia. Político experiente, grande empresário e, assim, administrador competente, não se pode negar. Tinha suas ações, em geral, voltadas para as elites e áreas nobres de São Paulo ou para megaprojetos às mesmas elites, seja como Prefeito ou Governador. Fazia… mas, roubava. Nunca pensei que chegaria o dia em que o acharia um amador, como hoje o considero, um ser folclórico, tal um Jânio, como, também, um amador foi Collor, que à época surpreendeu a todos (imagine, Collor desviou uns trocadinhos perto do que se pratica hoje, foi então mais um bode expiatório). Penso que a capacidade das elites serem cada vez mais monstruosas é um fato que faz os ladrões do passado parecerem criancinhas travessas. Tenho minha fé em Deus, mas, obviamente, nenhuma fé nos homens, que, ao longo da minha vida, em várias instâncias, me provaram serem fracos, traiçoeiros, mentirosos, oportunistas etc. etc. Muito mais inimigos do que amigos. Realmente, o ser humano, dentro dessa maravilha em que se configura nossa vida e nosso universo, hoje, a meu ver, tem menos valor do que uma planta, um animal, uma montanha. Acho, hoje, mais urgente salvar um rio do que um ser humano. Realmente não sou uma criatura politicamente correta nem tenho esta pretensão (concluí que os que têm obrigação de serem politicamente corretos, os políticos e os magistrados, em sua imensa maioria, são verdadeiros bandidos, então não me cabe dar o exemplo) e, graças a isto, posso dizer que dos muitos defeitos que tenho a hipocrisia não é um deles. Ando um pouco revoltado, confesso, com tudo isto que vemos no mundo e, especialmente, em nosso país (a gramática pede que se grafe país com “P”, mas não vou ser cínico a esse ponto). Realmente estão brincando comigo, rindo da minha cara, me roubando abertamente e me tratando como um idiota, exigindo-me infindáveis deveres e subtraindo-me direitos adquiridos sob o nome de "flexibilização" das regras, tentando me enganar com uma Constituição em tudo teórica e me ofertando, na prática, caos, injustiça e podridão social. Acho que as crianças, maravilhosas, merecem ser salvas, sim. Mas, ao atingirem a idade adulta, muito provavelmente já não farão juz a isto, estarão, em sua maioria, corrompidas como seus pais... Tenho saudades de meu cão, falecido a pouco mais de um mês, do alto de seus 16 anos e meio. Um belo cão, forte, grande, de porte nobre, cabeça erguida. Arjuna era seu nome. Tirado da mitologia hindu, Arjuna era um príncipe, um guerreiro, general dos exércitos, o maior estrategista militar e o melhor arqueiro. O nome cola às coisas e meu Arjuna também foi um príncipe e um guerreiro. Foi a criatura mais especial que conheci e convivi em mais de 40 anos de vida. Um ser pleno de amor e serenidade, alegria de viver, companheirismo e doação. Quando eu entrava num lago para remar, Arjuna mergulhava atrás; quando eu ia para as montanhas fazer trilhas de bike por horas, Arjuna corria no meu encalço por longas subidas e descidas; quando eu entrava numa roda de capoeira de rua, tinha que amarrá-lo em algum poste próximo, porque da primeira vez ele atacou; sei que se me jogasse de um abismo ele se atiraria colado em mim. Meu Deus, como é absolutamente claro que meu cão tinha um valor imensamente maior que uma infinidade de seres humanos pelo mundo afora! Meu cão morreu agonizando, não sem antes, quase sem forças, “pedir” para ficar de pé para se despedir num “abraço”. Teve que ser sacrificado, pois era extremamente forte e, por amar muito a vida e os que o amavam (especialmente meus pais, que cuidaram dele até o fim devido à minha mudança para Salvador), lutou de um modo impressionante: ainda vivo, mas já em estado de decomposição. Sua alma era ainda maior que seu corpo. Por isso o sacrifício. Ele não queria ir embora, ele deu muito à vida e a vida lhe retribuiu em muito, também. Era um bravo aquele cachorro e era um ser feliz e amoroso, que cresceu solto e rodeado de muitas e muitas pessoas. Por outro lado, me pergunto o que Sarney deu à vida, pois o que a vida lhe deu me parece muito claro. Vejo Sarney lutar agarrado à sua cadeira, vejo sua filha lutar agarrada ao poder, todos os seus parentes, agarrados, apegados, qual parasitas que são. Tenho no fundo pena dessa família e de sua mediocridade, apesar do poder material, tão patéticos que são. Mas, Sarney não será lembrado pelas qualidades nobres que meu cão possuía abundantemente. Sarney será lembrado - extraoficialmente, claro - por ser um homem fraco, oportunista, explorador de seus “iguais”, corrupto e por outros bastantes adjetivos do tipo. Inepto talvez seja algo que resuma bem a Sarney: inepto como político, inepto como escritor, inepto como homem, inepto como estadista, inepto como pai. Para mim, acompanhar a agonia de meu cão foi das coisas mais difíceis entre as muitas coisas difíceis que já passei nessa vida. Foi triste (ironicamente, Arjuna faleceu no dia do aniversário de minha mãe). Larguei meus compromissos, peguei um avião de Salvador a São Paulo porque sabia que ele me esperava para se despedir. Os cães fazem isso. Se eu não tivesse ido, provavelmente ele iria resistir mais, e mais sofrer. Se eu não tivesse estado com ele nessa passagem, provavelmente, iria passar a vida me sentindo um verme de uma espécie pior do que Sarney. Tenho fé em Deus, mas Seus caminhos são intangíveis a nós, homens comuns. Penso por que meu cão - uma criatura que em sua passagem por essa vida nunca praticou o mal, incapaz disto que era, unicamente semeou o amor - precisou sofrer para partir. Penso como seria interessante ver Sarney à beira da morte, agonizando em sua cadeira no Senado, sofrendo e definhando, apegado, vertendo pus pela boca e olhos, seu abdome, costelas e olhos afundando, com escaras e teias de aranha, todo pele e ossos, a agulha do médico não encontrando sua fina veia para o sacrifício, suas dores aumentando, seu desespero por ver que sua fortuna e posição são nada na derradeira hora, sua culpa por uma vida inútil e improdutiva perturbando sua mente, sua certeza de estar partindo rumo ao inferno, um inferno pior do que o que impôs, nas últimas décadas, à população miserável do amado Maranhão, do Amapá e do Brasil. Isso bem que poderia durar uma semana ou mais e ser transmitido em rede a todo o Brasil e ao mundo, afinal, tal qual Michael Jackson, Sarney pode ser visto como um ícone pop, também: é um produto da segunda metade do século 20, apropriou-se dos meios de comunicação de massa, criou-se com vistas à comercialização e ao consumo e suas ações são falsamente espetacularizadas e voltadas à mídia… Quanto a mim, sentado tranquilamente em minha confortável poltrona, à mão uma lata gelada, como quem saboreia uma final entre Brasil e Argentina, assistindo a esse hipotético, apoteótico e prolongado espetáculo final da morte de Sarney, como num delírio dantesco, vou torcer para que o médico não encontre a veia…

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NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Depois de prefixo, quando a segunda palavra começar com s ou r, as consoantes devem ser duplicadas. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra. No entanto, o hífen será mantido quando os prefixos terminarem com r, como hiper-, inter- e super-. Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.

QUEM SOU EU

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Salvador, BA, Brazil
Sou paulista, tenho 44 anos, e a seis anos moro em Salvador, Bahia, aonde vim fazer meu mestrado em arte-educação na Universidade Federal da Bahia. Sou professor de Metodologia de Pesquisa Científica na Faculdade São Tomaz de Aquino, nos cursos de Direito, Pedagogia e Comunicação. Presto serviços em Metodologia de Pesquisa Científica - minha especialidade - e Redação pela TEXTO&CONTEXTO: cursos, consultoria e normatização para textos científicos. Tenho atuado a mais de 15 anos junto a alunos de graduação e pós-graduação de universidades como UFBA, Uneb, USP, Unicamp, Unesp, UFPE, UFSC, FGV e universidades de Portugal e África, dentre outras. Em 2008, iniciei disciplinas no doutorado em Educação na UFBA como aluno especial.

ESTRADA

  • Nasci em São Paulo, capital, e fui criado no bairro da Moóca, tipicamente de classe média italiana, nascido como bairro proletário.
  • Nos anos de 1987 e 1988 fui membro individual da Anistia Internacional e em 1989 fui membro de grupo, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.
  • Em 1989, iniciei bacharelado no Instituto de Artes da Unicamp.
  • Em 1993, trabalhei como voluntário responsável pela biblioteca no Centro Boldrini, hospital referência no tratamento do câncer infantil, em Campinas.
  • Em 1996, com mais seis amigos, fundei o Centro de Cultura e Convívio Cooperativa Brasil, em Campinas.
  • Em 2000, escalei o vulcão Villarica, no Chile, o mais ativo da América do Sul, com quase 4 mil metros.
  • Em 2001, conclui especialização em Metodologia de Pesquisa Científica pela Unicamp.
  • Em 2003, graduei-me na ABADÁ-Capoeira.
  • Em 2007, conclui mestrado na área de arte-educação pela UFBA.
  • Desde 2007, sou membro da Igreja Batista da Graça.
  • Atualmente, sou Membro Internacional e de Rede de Ação Urgente da Anistia Internacional, escrevendo cartas para chefes de Estado e de Governo do mundo todo em prol de presos políticos e de consciência.

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